Já imaginou ser jovem para sempre?

Há beleza na velhice? E o fato da alta cobrança direcionada as mulheres em relação ao culto de uma aparência jovem? Lacan (1964/1990) em seu seminário XI, refere-se a dois campos: do sujeito e do Outro, sendo o segundo o lugar onde situamos a cadeia de significantes que impera, ou seja, é o campo desse vivo em que o sujeito precisa aparecer. Irei discorrer melhor sobre: o bebê em seu nascimento se assujeita ao Outro, sendo inserido em uma cultura, uma ordem social, uma família e linguagem. Isto é, ele se assujeita no que o antecede para que seja representado pela via da linguagem (sendo necessário também que uma separação ocorra). A partir desta separação o sujeito começa a se indagar o que é que o outro deseja de si ou, até mesmo, se ele faz falta para este outro. Levando a seguinte questão: Qual o lugar que eu ocupo no campo do outro? Cria-se assim uma imagem de si mesmo (eu) e consequentemente irá construindo-se como sujeito.  

Logo, será que a mulher perde seu lugar no campo do Outro ao envelhecer? 

Ainda há uma feminilidade hegemônica e estereotipada, nos ideais voltados às mulheres: as mesmas bocas, os mesmos cabelos, a mesma sobrancelha, a mesma unha. E no caso de não nos submetermos a este tipo de padronização? Quais são as representações sociais que a velhice representa? E o que seria envelhecer bem em uma sociedade onde tantos estereótipos são impostos?  

Se a subjetividade do sujeito é construída no entendimento da palavra, quantas coisas perdem o sentido no processo do envelhecimento: o cabelo já não é mais o mesmo, o corpo vai se modificando, as rugas que não desaparecem mais e cismam em fincar nossa pele. Marcas, marcas de um tempo que não controlamos e não para. Por isso, é necessário mais do que nunca um trabalho de análise voltado a ressignificação deste corpo, sobretudo o corpo psíquico. Elaborar a questão de como iremos continuar nos movimentando após perdermos o corpo que por tantos anos foi visivelmente aceito e hoje custa a encontrar o seu lugar na ditadura da beleza.  

Para a Psicanálise há uma atemporalidade dos processos psíquicos, ou seja, o sujeito é algo que vai muito além de sua idade cronológica, onde o sujeito passará a encontrar satisfação na realidade para muito além de somente (e apenas) perdas.  

Um processo de análise é individual, onde cada sujeito irá (Re)construir ao longo de uma vida o seu lugar diante da sociedade e todos os imperativos que lhe são impostos. Ao meu ver esta é a verdadeira liberdade proporcionada através da psicanálise, assim como nosso corpo podemos construir e reconstruir nosso lugar a todo momento. E como há beleza nesta construção!