Sobre o dia dos avós…

Lembro-me que minha avó era vista por todos de minha família como uma alma muito evoluída, muito sábia(acho que a sabedoria em alguns casos realmente vem com o tempo, caso contrário o corpo só envelhece mesmo). Colocavam ela neste lugar porque aguentava muitas mazelas que a vida tinha lhe imposto. Irei explicar melhor, minha avó era japonesa nascida em Okinawa, veio para o Brasil ainda criança e quando conheceu meu avô que era um Italiano, teve um trelele com ele (eu chamo de trelele todo envolvimento amoroso, desenvolvi isso em análise rsrs) e logo se casou. Desse casamento nasceu minha mãe e meu tio. Porém, estamos falando de duas culturas muito distintas. Quando minha avó decidiu que iria se casar, a família lhe deu as costas e ela nunca mais soube deles.
 
Talvez eu sempre tenha achado minha avó sábia porque para a época (e ainda para os dias atuais), era uma raridade uma MULHER vindo de uma cultura tão tradicional como o Japão optar pelo próprio marido e pelo próprio destino (talvez seja isso que eu chame de bancar o próprio desejo, minha avó era corajosa).
 
Imagina o choque cultural de alguém que nasceu no Japão, mudou-se para o Brasil e casou-se com um Italiano (e foi morar em uma típica casa italiana da Calábria). O italiano sempre foi quase que uma segunda língua lá em casa (e eu até hoje não domino, nem o italiano e nem a língua que era dita na casa dos meus pais rsrsrs).
 
Quando eu nasci (minha mãe me pariu já com idade, acho que por isso existiu a confusão na minha cabeça de quem é a mãe e quem é a avó,era uma loucura rs) minha avó já tinha o auge de seus setenta e poucos anos. Eu digo auge porque a mulher era bonitona mesmo gente (eu sempre quis ser alta como ela, mas a genética não me ouviu rsrs). Ela passou por um câncer de mama por volta de quando eu tinha 5 anos e depois foi perdendo a visão aos poucos (até hoje não sei ao certo o que ocorreu), mas ainda assim brincava comigo, cuidava de mim e conseguia ter uma mente progressista para a idade dela. Ela era aquariana (seja lá o que isso signifique).
 
Mesmo sem a visão ela via o mundo da forma dela, sempre com um sorriso no rosto e nunca queixosa quanto as decisões que havia tomado. Sempre me indaguei se ela já se questionou se tomou a decisão correta ou se simplesmente fez as pazes com a dúvida e abraçou o destino que travou para si.
 
Na minha opinião a minha avó entrou no lugar de santidade para a minha família por simplesmente aceitar que dentre as escolhas que a vida deu à ela, o melhor era bancar sua decisão e passar algo de sabedoria adiante. O adiante no caso sou eu.
 

Compreendi que querer estar em um lugar que não me cabe mais é sinônimo de sofrimento e que a vida sempre se tratará de perdas (a cada escolha eu perco algo). Cabe à mim tornar o processo menos doloroso e rir desse lugar psíquico que nos obriga a ser todo. Não sou toda! Não quero ser toda e isso eu acho que aprendi com a minha avó . Feliz dia dos avôs vó!