Para a psicanálise a gestação é um fenômeno em si mesmo, isto é, trata-se de uma experiência inatingível para quem não a vive e isso ocorre porque o corpo humano muitas vezes é estranho para nós mesmos. Ver a experiência da gestação é diferente do que experienciá-la diretamente, levando até mesmo com que as próprias mulheres que estão passando por essa experiência se surpreendam. Afinal, estar grávida também é uma notícia que “vem de fora” para a mulher que está experienciando a gravidez pela primeira vez.
O que se passa durante a gestação é algo que deve ser elaborado por cada mulher em sua terapia, afinal, “des(cobrir)” a romantização da maternidade que a sociedade vem impondo é fundamental para que esta mulher não crie cobranças excessivas, referente ao que imagina ser correto de “estar sentindo”.
Na contemporaneidade, a gestação ocupa um lugar de idealização, sendo mais uma vítima dos padrões muitas vezes inatingíveis que a sociedade impõe. Isto acarreta em pressões desnecessárias para esta futura mãe e cala a subjetividade de cada gestante, resultando em crises durante e após o período gestacional.
Ao nos referimos as depressões na perinatalidade, não podemos esquecer que vivemos em uma cultura de imaginário de felicidade plena, onde a tristeza e o sofrimento durante o período gestacional e pós gestacional não possui espaço, acarretando em uma supervalorização da mania, ou seja, um excesso de ação para muitas vezes encobrir um estado de humor mais depressivo. As depressões na perinatalidade muitas vezes se iniciam a partir do 9º mês de gestação e não apenas no pós parto. Normalmente, a disforia é o primeiro sintoma a ser reconhecido (trata-se de uma mudança brusca de humor). Caso este quadro não seja tratado, poderá durar anos e até mesmo se transformar na tão temida depressão pós-parto.
Baby Blues: Saiba como identificar
O Baby blues é considerado um transtorno psíquico leve e frequentemente notado nas alterações psíquicas do puerpério. Também conhecido como tristeza materna, trata-se de uma síndrome transitória (ou disforia puerperal), podendo durar entre o terceiro e o décimo dia pós parto, com picos de intensidade entre o terceiro ao quinto dia. O quadro clínico é caracterizado pela labilidade das emoções, ou seja, uma empatia excessiva e crises de choro inesperadas. Pode-se identificar outros sinais como:
- Alteração de humor
- Tendência ao esquecimento e confusão
- Dores de cabeça
- Sentimento de indiferença com relação ao bebê
- Insegurança
- Tristeza
- Baixa autoestima
- Entre outros
Na prática porém, alguns dos sintomas que se apresentam no blues, principalmente as crises de choro e as alterações do humor e uma certa insegurança, ainda permanecem durante algumas semanas (em alguns casos até meses), sem ainda caracterizar um quadro de depressão ou outra patologia psiquiátrica. Por isso é fundamental uma avaliação psicológica feita o quanto antes para verificar as hipóteses diagnósticas de cada caso.
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