Mãe Narcisista

Ouço continuamente em meu consultório determinada expressão: “mãe narcisista”. Comecei a notar que o mais comum era tal termo ter como origem mulheres, que se referiam à sua mãe de dada forma. Resolvi explanar um pouco sobre o assunto, já que o universo feminino e a maternagem fazem parte de minhas especializações na área psicanalítica.

Toda relação mãe e filha precisa ser criada, ao contrário do que muitos pensam, ela não existe por si só. É necessário essa construção para o bebê sair da posição de objeto de desejo da mãe, e essa por ventura conseguir elaborar o luto de um bebê idealizado (que comumente já cai por terra na famosa fase caracterizada por Baby Blues).

Ao contrário do que muitos pensam, não é na adolescência que tais lutos são criados, ou pelo menos não deveria ser. Eles surgem desde o momento em que a mãe reconhece a necessidade de abrir mão da posição narcísica pela qual se vê seduzida, lugar em que o bebe ocupa justamente muitas vezes para restabelecer o narcisismo dessa mãe. É fundamental que tanto mãe como filha articulem entre si e neste contexto, que haja pequenas diferenças, para que no futuro não sejam necessárias maiores.

A adolescência é uma fase de separação e cortes para que “essa filha” consiga se reconhecer diferenciada dessa mãe e para que através desse movimento, seja possível a criação de sua própria singularidade.

Especificamente, na relação entre mãe e filha, outras coisas passam a fazer parte deste contexto. Se por vezes, esta mãe é seduzida pelo papel fálico ao qual se encontra perante a filha, também é comum nos deparamos com a dificuldade dessa filha romper as idealizações desta mãe, outrora projetadas.

O que a filha irá encontrar como saída para sua construção como mulher, caberá apenas a si mesma e não à mãe, ou seja, permanecer neste lugar de “espera”, aguardando que, inconscientemente esta mãe a direcione em relação ao que deve ser feito com sua própria feminilidade pode se tornar fonte de devastação e de falta acolhimento. Essa posição de espera, mantém a filha identificada com a mãe, justamente por inconscientemente achar que esta mãe terá algo a dizer sobre este lugar de feminilidade que precisa ser construído, isto é, acredita-se que é esta mãe que possui resposta sobre suas questões femininas (singulares) muitas vezes também atribuindo certo tipo de aprovação à esta mãe. Tornar-se mulher depende também do vínculo principal mãe e filha.

É fundamental que neste inteirim, a separação deste vínculo seja sustentada, por mais desvatador que este período parece ser, ele irá passar e com isso uma nova relação mãe e filha será criada, desta vez tratando-se de duas mulheres (que se tornaram). Isto será de essencial importância para a filha reconhecer seu lugar de feminilidade para além de sua mãe e com toda a subjetividade e singularidade que este papel possui e com certeza, trará uma realização ímpar à esta mãe de poder observar e permitir que essa filha se torne Mulher ao passar dos anos e não apenas “reter” esta filha. Afinal, com certeza esta mãe irá se descobrir em muitos outros papéis que tomará ao longo do tempo. Esta é uma das belezas de ser mulher: inventar-se e reinventar-se.