Angústia, todo excesso esconde uma falta?

Medo e angústia, será que ambos caminham lado a lado? O fato de não sabermos nomear o que estamos sentindo em determinado momento pode nos deixar em dúvida, porém ambos se encontram entrelaçados na dinâmica defensiva do sujeito. Isto ocorre, porque trata-se de uma reação, um alerta de que o nosso “eu” pode ser aniquilado. É através desta sensação que iremos decidir entre o agir e/ou fugir perante uma situação de risco.

Tendemos a encontrar formas simbólicas de nos precaver desta sensação, através por exemplo do dinheiro, a fim de evitar este tipo de sofrimento e por consequência sentir menos medo. Porém, trata-se apenas de uma categoria puramente simbólica, isto é, vazia, que apesar de nos preencher em certo momento, também poderá ruir. Há quem crie outras maneiras que irei caracterizar aqui como “escudos” para lidar com o mesmo tipo de sensação, ou seja, criam-se outros símbolos: crenças, grupos, conhecimentos, entre outros, a fim de se reconstruir simbolicamente e dar conta deste afeto primário que é o medo.

No momento em que, isso tudo passa a não ser mais possível, a sensação é a de que o nosso “mundo” irá cair. Nossa vulnerabilidade, dentro da condição de Ser Humano, passa a ficar escancarada e com isso surge o medo iminente de sermos reduzidos à Nada. A angústia passa a se tornar mais presente e muitas vezes a fantasia de que há um Outro que quer te destruir começa a tomar forma. Já dizia Freud que o sujeito se inibe e faz sintoma para evitar a angústia, porém ela é o único afeto que não mente caracterizado por Lacan.

No lugar em que surgir a angústia haverá uma verdade relacionada ao seu desejo mais “estranho” e à sua posição de existência. Aonde angustia mora a insuportabilidade do desejo e com isso, muitas vezes o medo mais radical do desaparecimento e despedaçamento do seu ser. Atravessar este momento é essencial para que você compreenda o que ainda não está claro.

A frase clássica de que todo excesso esconde uma falta, torna-se importante para que possamos entender a importância da angústia e que lutar contra é inútil, podendo gerar novos sintomas ou até mesmo, futuros transtornos. Nossa defesa primária sempre será amortizar e anestesiar, através de medicamentos (muitas vezes excessivos), trabalho excessivo, compras excessivas. É a Era do consumo excessivo! Qualquer tipo de anestesia para tamponar um vazio de linguagem e significação, que é constitutivo do humano.

Atravesse este momento, busque o auxílio de um psicólogo nessa travessia, compreenda aonde angustia, o porquê angustia. Pare de querer anestesiar, de esvaziar-se de sentido. Há uma utilidade para a angústia. Quando você não a cala, é aí que irá surgir o radicalmente novo do que é você e do que deseja.

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