O que o coronavirus veio nos ensinar? Com qual facetas de nossa psique precisamos lidar neste momento tão delicado de isolamento social?
O Covid-19 chegou e com ele a necessidade de pararmos e diminuirmos nosso ritmo de trabalho e social, o que claramente não vem de encontro com nosso estilo de vida, que ao contrário, só aumentava cada dia mais. Já sabemos que para reduzir a velocidade com a qual o vírus se propaga, é necessário reduzirmos nossa velocidade que por diversas vezes tampona nosso próprio vazio que surge escancarado no momento em que nos é imposto parar e lidar com nossas próprias fragilidades.
Viemos por tanto tempo procurando as mais diversas formas de adormecermos nossas angustias e com isso nossos vazios, que no momento em que é escancarado para nós uma doença que requer a consciência da população no geral para ser contida, precisamos elaborar a angustia que é dependermos uns dos outros e encarar nossas limitações.
Ao nos isolarmos, somos convidados a todo instante a lidarmos com nossos próprios vazios, que irão surgir das mais variadas formas: angustias, medos, ansiedades e fobias. Não há como nos livrarmos de algo da ordem constitutiva do ser humano como este vazio (isto é, angustia). O esvaziamento de sentido que a falta de controle gera no ser humano é um convite para aprendermos a suportarmos aquilo o que nos angustia e utilizarmos este momento para nos compreendermos melhor e lidarmos com os nossos desejos mais ocultos e com isso, encararmos nossos medos que costumam ser encobertos.
O vírus que se propaga entre pessoas nos obriga a um “esvaziamento”, limitando nossos laços sociais, nossas atividades, nosso trabalho e nosso cotidiano. Mudar nossa rotina e nos distanciar para que este vírus não se propague através do isolamento social, trará danos psicológicos (não queremos nos sentir aprisionados), afinal, somos seres sociais e quando essa prisão também ocorre do ponto de vista psíquico o sofrimento passa a ser ainda maior.
A pandemia pode ser controlada, porém para isso precisaremos abrir mão de nosso próprio controle em vir e ir e nos colocarmos neste cenário de isolamento. As pessoas que negam o atual cenário, agem dessa forma devido ao pavor da falta de controle e incerteza, como um meio de defesa, não acreditando no risco que ela nos traz. Entretanto, a negação deste risco e por consequência a atitude negligente do não isolamento, irá resultar em um quadro desastroso.
Precisamos nos conscientizar que para reduzir a velocidade deste vírus é necessário reduzirmos nossa própria velocidade e, caso tenhamos dificuldade em agirmos desta maneira, contamos com o auxílio de psicólogos que estão atendendo através de plataforma on-line.
Crise que traz a oportunidade de sermos autores e cooperar na campanha para a diminuição de propagação do vírus, dependemos uns dos outros, mas nos limitando somos capazes também de limitar a velocidade desta propagação.
Tenhamos consciência e vamos procurar ajuda profissional no caso de sofrimento excessivo pelo atual cenário. Com certeza, crises também surgem para nos ensinar novas formas e maneiras de significar o mundo (o nosso próprio mundo também).