“Parece cocaína, mas é só tristeza….Muitos temores nascem do cansaço e da solidão.”

Esse é um trecho da música Tempos do Legião Urbana que me chamou muita atenção, principalmente na parte: “…mas é só tristeza”.

É só tristeza?
Popularmente mais conhecida hoje em dia como depressão, a tristeza ganha novas roupagens. Aliás, qualquer sofrimento psíquico, ainda mais os que se misturam com tristeza e apatia, são vistos atualmente desta forma.
Por que será que estamos fazendo de tudo para vencer o vazio de nosso desejo? E o que realmente sabemos sobre a origem de nossa infelicidade?
Mas o nome da música é tempos, algo tão escasso em nossa sociedade atual. “Ah, temos pressa” e a palavra tempo nunca antes foi tão conjugada com a preposição Sem (significa falta ou ausência de algo ou alguém). O homem contemporâneo tem realmente muita pressa!
“Não há tempo para nada” (ou não há tempo para nos confrontarmos com o nada, com o vazio…). Afinal, o indivíduo depressivo sofre demais com as liberdades conquistadas por muitas vezes não saber o que fazer com elas.
A música prossegue para o seguinte refrão:

“E há tempos são os jovens que adoecem…”
Será que o tempo (ou a falta dele) também adoece?
Muitos jovens reivindicam sua singularidade, mas são contidos (ou a sociedade irá tratar de fazer este trabalho). A era da individualidade substituiu a da SUBJETIVIDADE.


Conforme afirma a psicanalista Roudinesco:
“O homem de hoje transformou-se no contrário de um sujeito.”
Me indago se o contrário de um sujeito seria um objeto. Afinal, estamos imersos em uma realidade em que todos são criados a uma mesma imagem. Ligados a redes sociais, aplicativos e grupos…e aonde estão as diferenças? Não seria essa a verdadeira beleza do ser humano?
Deixamos de considerar o conflito como o núcleo normativo de formação subjetiva. Nem o sofrimento pode ser generalizado, pois cada um sofre de determinada forma e á sua maneira.

Hoje, mais do que nunca, compreendo Renato Russo ao cantar:

“Tua tristeza é tão exata
E hoje o dia é tão bonito
Já estamos acostumados
A não termos mais nem isso
…”