Frequentemente chega em meu consultório amantes que utilizam a relação amorosa como proteção do mundo exterior, ou seja, vivem de aparências gerando a temida dependência emocional. Outras vezes, há aqueles que pagariam qualquer preço por seus relacionamentos.
Entretanto, o preço é alto quando nos referimos a autonomia de cada sujeito.
No iniciou, o amante agarra o amor a qualquer custo e não quer que acabe, gerando medo. Afinal, quanto mais apegado o sujeito se torna, mais tem a perder. Surge então a ânsia de prender o parceiro a qualquer custo, ainda que o preço seja sua própria liberdade.
Contudo, a excitação possui origem nas incertezas, que quando dominadas são transformadas em tédio. Há a necessidade de que a vivacidade não abandone a relação e o indivíduo se torna propenso a acalmar sua ansiedade pelo viés do controle. Mas o erotismo gosta do imprevisível. O desejo se contrapõe ao hábito e a repetição.
Sem o componente de incerteza, não há desejo. A paixão em uma relação reside ao grau de incertezas que o sujeito consegue tolerar. O temido momento em que um parceiro domina o outro chega, e a dependência passa então a ser instaurada.
O parceiro dominante não consegue mais viver sem a dependência e o amor do outro e em contrapartida o seu par romântico não gosta de tomar decisões e assumir riscos. É através da busca do que lhe falta que a relação é criada e ambos se tornam tanto intelectualmente como emocionalmente limitados. A autonomia e a independência de cada um é exterminada, deixando um à mercê do outro. Dessa maneira, da relação se torna configurada na ideia de que a pessoa que amamos possui poder sobre nós.
Comumente, a dependência emocional é confundida com o amor, gerando a sensação de anestesiamento e a longo prazo não é incomum que sentimentos de aversão se instaurem. Dependência não é amor. Quando precisamos de outra pessoa para nossa sobrevivência e não há a liberdade de escolha, a relação se torna fonte de um parasitismo.
É quando duas pessoas são capazes de viver uma sem a outra e ainda assim escolhem viver uma com a outra, que há espaço para o amor.