Compulsão alimentar: um olhar psicanalítico

“Dentre as causas subjacentes à ansiedade que gera a compulsão de comer estão:
Comer quando a fome não é fisiológica.
Sentir-se descontrolada com relação à comida, entrando para valer na dieta ou na comilança.
Despender muito tempo com pensamentos e preocupações relacionados à comida e à gordura.
Procurar ansiosamente, na dieta da moda, informações essenciais.
Sentir-se péssima por não ter controle.
Sentir-se péssima em relação a seu corpo.”

Susie Orbach

É óbvio que a alimentação desempenha um papel elementar na relação entre a mãe e a criança, os bebes do sexo masculino e feminino vivenciam suas primeiras relações de amor com a mãe e embora muitas vezes inconscientemente, não é incomum que as mães possuam um interesse em manter o controle sobre quanto, o quê e quando a criança come, podendo existir muita ambivalência com relação à alimentação e à criação.

Em resposta a este tipo de comportamento, encontramos formas simbólicas de o indivíduo relacionar-se com a comida, ora referindo-se a algum tipo de privação afetiva, ora relacionada a culpa por destituir a mãe de um de seus principais papeis de provedora (neste caso não apenas de alimento, mas também afetivo). Muitas vezes, o sujeito começa a comer à procura de amor, consolo, calor humano e apoio – buscando algo indefinível que parece sempre faltar.

Ao comer em excesso, o indivíduo pode estar tentando rejeitar o papel da mãe e ao mesmo tempo manifestar a criação deficiente que recebeu, ou ainda, pode estar tentando manter um sentimento de identidade com a progenitora.

Desta forma, a gordura também torna-se um meio de dizer “não” à falta de poder e à auto-negação, ofendendo os ideais de beleza e ainda, no caso das mulheres, abalando o poder da cultura popular em torná-las meros produtos. A gordura também irá revelar indícios de tensão na relação com sua respectiva progenitora, esteja o indivíduo tentando amoldar-se às expectativas da sociedade ou tentando formar uma nova identidade. Os distúrbios psicológicos, em geral, alteram funções fisiológicas de uma pessoa: a capacidade de comer, de dormir, de falar e de ter vida sexual.

Comer por compulsão é uma atividade muito penosa, o sujeito que possui este tipo de distúrbio alimentar encontra-se em sofrimento e grande parte de sua vida está centrada na comida, o que pode e não pode comer, o que vai ou não vai comer, o que comeu ou não comeu, e o que comerá ou não comerá mais tarde. A obsessão pela comida carrega consigo uma carga enorme de auto-aversão, ódio e vergonha.

Os excessos em grandes quantidades denunciam infindáveis faltas e uma vida interna onde o alimento, o corpo, o prazer e a experiência de saciedade estão perdidos, isto provém de um sujeito que também está perdido de si e seu corpo pede repetidamente por ressignificado.

Mãe e filhos se tornam escravo de seu não -dizer e dificuldade de encontrar sua própria singularidade. O corpo começa então a representar simbolicamente toda sua gama de ambivalência emocional (amor e ódio) no modo de lidar com os alimentos, devorar tudo ou nada.