Desaprendemos a sofrer?

Já dizia Bion: “A verdade causa dor”, e a dor faz parte do sofrimento. Porém vivemos em uma sociedade onde desaprendemos a suportar esta dor. As frustrações se tornaram motivo de esquiva e fuga e a felicidade cada vez mais algo utópico e inalcançável, afinal é necessário sabermos que um dia podemos ser mais felizes do que somos de fato. Entretanto, quando baseamos essa utopia na vida de alguma figura pública, o passo para uma grande decepção acaba se tornando inevitável. E é exatamente isto o que acontece nos dias atuais.

Livros de autoajuda nunca tiveram tantas vendas e as frases de seus respectivos autores nunca foram tão citadas. Verdadeiros mantras, tentando nos convencer que o sofrimento é algo digno de ser ignorado. Muitas vezes, o sujeito se frustra por não conseguir ter o que aquele influenciador digital possui. Ou, por não conseguir comprar o celular da moda. Por não viajar para a Grécia ou para Fernando de Noronha. E, é devido a isso, que o indivíduo passa a não saber lidar com suas frustrações. E, acredita que está errado em senti-las, afinal não é o que o mundo digital prega.

Aceitar a frustração é primordial

Quando nos deparamos com movimentos como o “setembro amarelo”, onde é realizada uma campanha para a prevenção de suicídios, estamos tentando não só acolher e tratar o sofrimento desses indivíduos que por algum motivo não souberam ou não estão sabendo lidar com a sua dor, mas também mostrar que a dor é algo inato ao ser humano. A dor é inevitável e aprender a lidar com ela é necessário. É quando sentimos dor que nos movemos, é quando o sofrimento emerge que devemos requisitar auxílio. Fugir ou tentar calar isso será pior. A consciência e aceitação de um estado de frustração é primordial para um bem-estar, para uma vida saudável.

A idealização de uma vida perfeita fomentada pelas redes sociais, acaba se tornando alvo de um enorme cenário onde ser feliz constantemente é obrigação. O efeito disso é o aumento de pessoas cada vez mais insatisfeitas. E, o sentimento de injustiça se instalando na população. Afinal, todos querem e almejam ter aquilo o que é pregado como o ideal. Elaborar este sentimento através da psicoterapia é fundamental, compreender se aquele modelo de vida ou de pessoa é realmente o seu ideal é fundamental. Promover uma ressignificação da situação geradora da frustração é fundamental.

Sofrer ou encarar os sofrimentos de frente?

Já é chegada a hora de encararmos os nossos sofrimentos de frente, de aprendermos a lidar com ele e então conseguir elaborar nossas frustrações. Só assim somos capazes de alterar a situação em que nos encontramos e sermos nossos próprios agentes de mudança.

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